domingo, 16 de dezembro de 2007

Rituais de recuperação

Traduzido a partir de texto de Danny O'Neil, do Seattle Times

Link: http://seattletimes.nwsource.com/html/seahawks/2004075978_hawk160.html

Patrick Kerney é pago para criar pressão. É parte do seu trabalho como defensive end, jogador que passa boa parte do seu tempo perseguindo o quarterback.

Esta, entretanto, é uma aplicação bem mais literal de pressão: Kerney se fechando dentro da câmara hiperbárica no porão de sua casa em Belleveu. Ele coloca uma máscara no rosto, apanha seu iPod ou um bom livro e passa algumas horas respirando ar que é 80% oxigênio por acreditar que isso ajudará no processo de recuperação.

"Você está sempre curando algo", diz Kerney. "Essa é a forma que você deve lidar com isso se quer permanecer no campo."

O corpo de um jogador da NFL é o seu negócio, e por isso requer investimento e constante cuidado. Os jogadores gastam metade da sua semana se preparando para o próximo jogo, e a outra metade se recuperando do último.

A maioria dos jogadores recebe uma massagem semanal. Vários gastam 15 minutos por dia alterando entre banheiras frias e quentes, a circulação sendo estimulada pela diferença de 15 graus para mandar embora os machucados, quase como se fossem carros tendo seu óleo trocado.

Os jogadores tomam shakes de proteína ou adicionam suplementos em pó ao seu gatorade depois do treino. O linebacker Kevin Bentley encomenda comida orgânica de uma companhia em San Diego. As refeições são empacotadas individualmente, as calorias contadas.

Kerney tem alguém que cozinhe pra ele, e come quatro refeições por dia cheias de carboidratos e altas em proteína. Ele vai pra cama bem antes da meia-noite todos os dias, e quando diz respeito a focar em seu corpo, ele descobriu que isso também abre sua mente.

"Eu tenho tido grandes resultados com o que é chamado de medicina alternativa" diz Kerney.

Ele dorme em um lençol alinhado por metais prateados ligados a uma corrente elétrica. Supostamente serve para eliminar radicais livres, e ainda que se pareça com algum dispositivo militar, eles são na verdade compostos altamente reativos, que podem danificar células do corpo.

Antes de cada jogo, quando Kerney está se vestindo no vestiário, ele pega uma luva de grafite, enrola em uma toalha molhada e coloca ao redor de seu pescoço. Outras luvas de grafite vão em uma toalha molhada ao redor de seus tornozelos. As luvas são ligadas à sua máquina de microcorrentes elétricas, que inclui um programa direcionado a estimular sua glândulas adrenais.

E nos dias após o jogo, Kerney passa algum tempo na câmara hiperbárica que comprou o ano passado. O ambiente pressurizado infla a quatro onças de ar por polegada quadrada, suficiente para fazer os ouvidos entupirem, o que supostamente ajudaria no processo de cura ao aumentar a quantidade de oxigênio que o corpo absorve.

"Quanto mais você faz parte da liga, mais este se torna um trabalho 24 horas por dia", afirma Kerney.

Uma câmara hiperbárica requer tanto uma prescrição médica quanto uma mente aberta.

Kerney tem ambas.

Ele sofreu uma ruptura do quadríceps na primeira jogada do ano passado em Atlanta. Seu companheiro de time John Abraham sofreu uma lesão no músculo da virilha mais tarde no mesmo jogo, e de repente os Falcons estavam contemplando a possibilidade de ficar sem seus dois defensive ends titulares na próxima semana.

"Eu sabia que uma lesão no
quadríceps era mais fácil de recuperar", afirma Kerney.

O companheiro de Falcons Travis Hall recomendou sua câmara hiperbárica, que pode custar quase US$20 mil. Hall morava no meio do caminho entre a casa de Kerney e o centro de treinamento dos Falcons. Kerney passou as próximas semanas dormindo na câmara no porão de Hall.

"Dez da noite ele, sua mulher e sua crianças ouviriam uma batida na porta", diz Kerney. "E lá eu ia, me encaminhando para o porão."

O conceito é bem simples: oxigênio é essencial para o processo de cura do corpo, e uma câmara hiperbárica é inflada com mais oxigênio, permitindo ao corpo absorver uma quantidade maior. Terrel Owens credita a ela sua recuperação de um tornozelo quebrado a tempo do Super Bowl na temporada de 2004. Há rumores que Michael Jackson dormiria em uma.

O Dr. Justin Rothmier da Clínica de Medicina Esportiva de Seattle diz que não há muitas evidências científicas da efetividade de câmaras hiperbáricas no tratamento de lesões. É mais conceitual que qualquer outra coisa.

Kerney vai continuar se fiando na experiência de passar boa parte de setembro de 2006 na câmara hiperbárica de Hall, e por ter conseguido superar aquela lesão no quadríceps.

"Eu consegui jogar todo domingo enquanto me recuperava ao mesmo tempo", afirma Kerney. "E isso me convenceu!"

Ele encomendeu a sua, que se parece com um enorme e amarelo saco de dormir. Há um zíper em cima, que é reforçado por seis cintos de segurança, que se parecem com os de um assento de avião. Kerney põe uma máscara, fecha os cintos e o zíper lá dentro; então a câmara se infla até se parecer com um pequeno submarino. Há até um círculo transparente por onde é possível ver o que acontece dentro.

Às vezes Kerney lê lá dentro. Outras vezes ele ouve música. Ele pode mandar mesagens de texto ou assitir a um DVD. Há espaço mais do que suficiente, mesmo para alguém que tem mais de 1,90m e 123 kg como Kerney. O tight end Marcus Pollard veio experimentar quando estava se recuperando de uma lesão no joelho e assistiu ao filme "Tombstone - A justiça está chegando" enquanto estava na câmara.

A temporada de Kerney acabou o ano passado após uma lesão de músculo peitoral, e ele credita à câmara hiperbárica sua recuperação mais rápida, que terminou mais de dois meses antes do esperado. Toda segunda e terça-feira, Kerney vai passar pelo menos umas duas horas fechado dentro da câmara, respirando oxigênio pressurizado.

"Quando você sai de dentro, você se sente ótimo!", diz Kerney.

Segunda deveria ser a pior parte da semana de um jogador, um dia após o jogo, quando as lesões ainda estão frescas, os cortes ainda não sararam. Na verdade, este não é o pior dia.

"Ainda há um pouco da adrenalina do jogo", diz o safety Brian Russel. "Ainda há um pouco daquela energia."

A queda do entusiamo acontece na terça, deixando em troca o custo a ser pago por uma tarde correndo ao encontro de outros seres humanos usando capacete, normalmente ambos em alta velocidade. Há as inevitáveis dores e lesões, e todo o ácido lático criado pelo esforço excessivo, que cria dores terríveis nas pernas.

"Terça é o pior", diz Kerney.

Um fardo que todo jogador da NFL tenta suportar com todo tipo diferente de técnica.

Russel recebe uma massagem toda terça. Parece bom, não? Bem, ela é qualquer coisa, menos relaxante... Um massagista passa uma hora e meia enfiando dedos e cotovelos em todos os nós e músculos retesados, especialmente nos ombros e pescoço de Russel.

Bentley recebe algumas massagens por semana, e frequenta aulas de yoga dentro de uma sauna às terças-feira à tarde e novamente na quinta pela manhã. A temperatura ultrapassa os 40 graus, e o linebacker de 108 kg faz o que pode para aguentar.

"Ajuda a recuperar sua flexibilidade de volta", afirma Bentley. "E a limpar seus sistema, já que você soa muito e perde muita água".

Bentley consome apenas comida orgânica, especialmente encomendada e entregue toda sexta-feira, consumindo 2.000 calorias por dia.

"Com o tempo, seu corpo começa a falhar", afirma Bentley. "Quando você come porcaria, parece que só acelera o processo, pra mim pelo menos".

O armário de Bentley é próximo do linebacker de 110 kg Julian Peterson, cujo café da manhã a semana passada começava com bacon, ovos e salsicha, e terminava com uma caixa inteira de cereias açucarados.

Leroy Hill tem o armário seguinte ao de Bentley. Ele come fast food no jantar todos os dias. Subway, MacDonald's, pizza, qualquer coisa que pareça gostosa. Não que você pudesse perceber a partir do físico de Hill, totalmente esculpido.

"O corpo de todo mundo é diferente", diz Bentley. "Eu devo me recuperar diferente do Leroy".

Todo jogador encontra sua própria receita de recuperação, a forma de voltar ao destino de todo jogador da NFL: o campo.

Os jogadores da NFL costumavam confiar em gelo, e aspirina, talvez uma injeção de analgésico se as coisas estivessem realmente ruins.

"Nós passamos a gostar de calor", brinca o quarteback Matt Hasselbeck.

No passado, os jogadores não eram tão grande, e os programas de recuperação não eram tão sofisticados.

"Beba menos", brinca Dave Wyman, que foi linebacker da NFL por nove temporadas, incluindo entre 1987 e 1992 com os Seahawks. "Masque menos tabaco."

Wyman ia a um curandeiro quando fazia faculdade em Stanford, e a um quiroprata mais tarde em sua carreira.

"Depois de um tempo eu parei, porque eu percebi que no segundo que eu começava o aquecimento e dava meu primeiro tackle, eu percebia que tudo estava desalinhado novamente", diz Wyman. "E eu tinha que me realinhar depois de cada jogada."

E se você fosse um jogador hoje em dia?

"Eu provavelmente estaria tentando todas essas coisas", diz Wyman. "Porque há tantas coisas que não sabemos sobre o corpo humano".

Hasselbeck usa um colar de titânio da cor do uniforme dos Seahawks. Shaun Alexander diz ter tentado uma sauna infra-vermelha, seguindo uma dica de Bobby Engran. Esse tipo de suana não aquece o ar, aquece o próprio corpo, começando mais de uma polegada dentro do corpo para estimular a recuperação.

Os Seahawks tem um quiroprata que viaja com o time. Ele também é um acupunturista, e foi ele que recomendou o lençol com metais prateados a Kerney.

Estes são homens com corpos doloridos, desejosos de encontrar formas que permitam que voltem logo a campo.

"Eu não vou simplesmente e tento algo novo", diz Kerney. "Eu discuto tudo com nosso médicos e treinadores, e converso sobre os resultados que outros jogadores tiveram."

"Eu não vou gastar dinheiro com algo de que ninguém mais conseguiu benefícios".

Então ele vai dormir em um lençol plugado na tomada e entrar em uma câmara hiperbárica toda semana.

2 comentários:

Unknown disse...

Henrique! Muito boa a tradução!!
Excelente texto... Acho que vo juntar um dinheirinho pra comprar uma camera hiperbalica hehehe
Quem sabe cura ressaca...

Henrique Lisboa disse...

Só se ao invés de oxigênio vc encher a câmara com glicose! rsrsrs